CÁSSIO LOREDANO – O TRAÇO PERFEITO

Carlos Henrique Leiros

O traço fino, longilíneo e perfeito sempre foi a minha obsessão, enquanto apreciador de ilustrações e caricaturas. Adorava o apuro técnico de Péricles, o criador d’O Amigo da Onça, hóspede da última página da revista O Cruzeiro, de saudosa memória. Depois conheci a arte principesca dos grandes Raul Pederneiras e J. Carlos (da personagem A Melindrosa), quando, já falecidos, nem tinham mais seus trabalhos divulgados.

Ainda adolescente, com a revista Mad debaixo do braço (edição nacional), virei freguês dos craques Sergio Aragonés, Mort Druker e Dick de Bartolo, justo quando Norman Rockwell já habitava as minhas idéias. Quanto aos brasileiros, Vilmar Rodrigues e Edmar Viana, incensados pelo meu gosto particular, preparavam-me para a chegada de um outro gênio, egresso do jornal O Estado de São Paulo: Cássio Loredano.

Cultor do traço refinado e mestre em traduzir expressões do facies humano com perfeição singular, Loredano reacendeu meu interesse pelas ilustrações e caricaturas, meio arrefecido com o monopólio das charges banais e tirinhas de fácil assimilação e em menoscabo do rigor técnico. E na esteira de J. Carlos, a quem considera o maior de todos, trouxe de volta o apuro artístico de outros tempos, espalhando-o mundo afora.

Em 2012, ao ilustrar as capas da Coleção Saraiva de Bolso com as caricaturas de cada autor, Loredano apenas referendou o que já se supunha: é o mais qualificado profissional da sua geração. Resta esperar, somente, que algum outro ilustrador, dentre os tantos a perder tempo com charges políticas de mau gosto, tenha a coragem de seguir seus passos.

Foto: Eça de Queiroz, por Loredano

 

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